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O puxa-saquismo corporativo

Artigo escrito por Wellington Moreira.

Os bajuladores brotam em todos os lugares nos quais há relações de poder, e por conseguinte, um chefe a ser paparicado. Imagine, então, o que ocorre num país onde há uma cultura altamente hierarquizada e que valoriza a subserviência? É por isto que eles são tão comuns nas empresas brasileiras.

Existem, por exemplo, os puxa- sacos profissionais. Gente que investe boa parte do seu tempo na construção de laços de confiança com quem está no topo e que tem a capacidade de influenciar decisões estratégicas - para o bem ou para o mal - em decorrência de seus passos meticulosamente articulados, inteligentes e sutis.

E também há os puxa-sacos sem-noção. Pessoas que escancaram a bajulação por quem está no poder com atitudes de gosto duvidoso e visando encobrir seu medíocre desempenho. É o caso daquele colega que adula o chefe, o elogia sempre que pode e é o primeiro a rir das piadas sem graça do gestor só para manter uma via aberta com ele. Portanto, o sem-noção é alguém cujas condutas servis pouco interferem nos rumos da organização e que, no máximo acaba sendo a própria piada.

Bem diferente do puxa-saco profissional, que não dá ponto sem nó e desenvolveu ao logo do tempo uma capacidade tremenda de "ler" os comportamentos de quem pretende paparicar, a fim de agrada-lo . Assim, se o chefe fica no escritório até mais tarde, pode ter certeza de que o adulador também permanecerá e, ainda por cima, se for um sem-noção, irá postar uma foto no Facebook - com o chefe ao fundo, é claro - e uma frase do tipo : "Como é bom trabalhar numa empresa no qual somos valorizados".

No entanto, se alguns puxa-sacos fazem de tudo para externalizar demonstrações de intimidade com o alto staff tendo por propósito construírem uma reputação de poderio informal, geralmente não gostam nem um pouco do isolamento e da falta de cooperação que o próprio time de colaboradores trata de implantar ao reconhece-los com os "queridinhos do chefe" ou "espiões do pessoal lá de cima".

Por outro lado, é preciso ter em mente que alguns gestos de atenção com a chefia direta não podem ser encarados como puxa-saquismo. Parabenizar o chefe na data do aniversário dele, por exemplo, não é lambidela e sim um sinal de respeito com outro ser humano. Como também não é adulador o profissional proativo que atuou preventivamente e sem que ninguém lhe dissesse o que deveria fazer.

Com relação às empresas, o nível de "babação" apresenta variações por causa de alguns fatores. Por exemplo, a postura do gestor. Se você conferir uma atenção maior àqueles que têm por hábito elogiá-lo ou promover apenas os colaboradores que sempre estiveram dentro do seu círculo de confiança, é bem provável que angariará uma corja de baba-ovos em pouco tempo.

A cultura organizacional é outro fator-chave. Quando o acesso à alta administração é restrito e a comunicação interna demonstra ser ineficiente, alguns profissionais veem a adulação como meio de sobrevivência. O mesmo ocorre nas companhias que incentivam disputas pelo poder e veem a competitividade entre áreas como um estímulo à alta performance. Geralmente, as mesmas companhias nas quais as promoções de pessoal e os aumentos salariais são motivados pelos conchavos e não como resultado de justas avaliações de desempenho.

Se você quiser extirpar o puxa-saquismo da sua empresa só existe um caminho : implante a meritocracia. Valorize as pessoas que conferem significativas contribuições ao negócio e não as relações de poder que elas mantêm entre si. Passe a remunerá-las pela competência que apresentam em vez de valorizar apenas a pseudofidelidade que mantém com a sua empresa. E, por fim, pratique uma atitude bastante simples : agradeça quem o confronta e passe a cobrar mais daqueles que sempre concordam contigo.

 

 

Fonte: RH.com.br

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