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Num dado momento de sua vida, a radialista carioca Elisa Silva, 22 anos, chegou a achar que o normal era ter chefe louco. Afinal, logo nos primeiros empregos, ela teve experiências traumatizantes. O primeiro superior, um tipo elogiado pelo “sangue-frio” e por ter feito o corte necessário de pessoal que a rádio precisava, recusava sistematicamente suas ideias. Quando Elisa não conseguia cumprir determinada tarefa, ele questionava se ela queria ser demitida. O segundo era mais incisivo. Craque em fazer piadinhas de cunho sexual, perguntou-lhe certa vez: “Por que você não vem de minissaia para conquistar seus colegas?” A radialista reclamou à diretoria e o chefe tomou uma advertência, mas continua até hoje no emprego por ser amigo do patrão. Quem saiu foi Elisa, que, antes de desistir da profissão, finalmente arranjou um trabalho livre de psicopatas.
Se você nunca viveu uma situação semelhante às de Elisa, certamente conhece alguém que já passou por isso. Estima-se que 1 % da população adulta que trabalha é formada pelos chamados psicopatas corporativos, profissionais que não medem esforços para crescer e são capazes de ferir psicologicamente (quando não fisicamente) colegas de trabalho para conseguir o que almejam. Um estudo feito pelos pesquisadores americanos Paul Babiak e Robert Hare, dois experts no tema, afirma que cerca de 10 % da população apresenta traços de psicopatia suficientes para ter impacto negativo em seus companheiros. Como o psicopata social, que se deleita com o sofrimento de suas vítimas, o corporativo não é louco, mas é essencialmente mau. “Ele está ciente dos efeitos que seu comportamento tem nas pessoas ao seu redor, mas simplesmente não se importa”, diz o psicólogo australiano John Clarke, autor do livro “Trabalhando com Monstros – Como Identificar Psicopatas no Trabalho e se Proteger Deles” (Editora Fundamento).
Segundo Clarke, não é tão simples assim identificá-los de imediato. Isso porque eles são muito hábeis em conquistar e manipular colegas e chefes. “Ele faz o outro pensar que é muito eficiente, mas é craque em responder sem responder e passar, de forma inteligente, as tarefas para os outros”, complementa a psicóloga Marisa de Abreu. As consequências nas vítimas vão desde o desânimo de ir trabalhar até casos mais sérios, como a síndrome do pânico e a depressão. Para as corporações, o psicopata pode gerar desfalques milionários.
As empresas, embora cientes de tais profissionais e preocupadas com os casos de assédio moral e bullying, ainda são campos férteis para os psicopatas. De acordo com o coach Robson Castro, diretor da Agnis Recursos Humanos, isso acontece porque muitas caem na tentação de incentivar qualquer comportamento para atingir seu fim maior: o lucro. Outra razão apontada por Castro é o fato de as corporações não comunicarem a razão da saída do profissional psicopata para não manchar sua imagem, facilitando, assim, sua reinserção no mercado. Por fim, muitos ainda querem contratar o que o coach chama de “high-potentials”, donos de currículos impecáveis, formados nas melhores universidades e com promessas de uma carreira meteórica. “As que buscam os profissionais perfeitos devem ter cuidado redobrado para não ter um batalhão de psicopatas corporativos roendo as paredes da organização”, aconselha. Evitar a contratação do psicopata do trabalho é, no final das contas, a forma mais eficiente de evitá-lo.
Débora Rubin
Fonte: Revista Istoé - Fev 2012
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